Nossa volta ao mundo: saiba os motivos!
“Deixe de ser inconsequente… Você está ficando louco!”.
Foi isso que ouvi de um familiar bem próximo ao contar a novidade que passaríamos o ano de 2018 inteiro viajando, depois de passar meses refletindo sobre o assunto.
A verdade é que nunca liguei muito para a opinião de outras pessoas, e isso sempre me ajudou a tomar melhores decisões. Steve Jobs, em seu discurso histórico para graduandos da universidade de Stanford disse: “Seja corajoso e siga o seu coração e intuição. De alguma forma eles já sabem o que você realmente deseja se tornar. Todo o resto é secundário.”.
And most important, have the courage to follow your heart and intuition. They somehow already know what you truly want to become. Everything else is secondary.
– Steve Jobs
Tomar essa decisão, no entanto, não foi nada fácil.
Nosso contexto e a decisão
Colocando nossas vidas em perspectiva, fica fácil perceber que sempre tivemos uma estrutura fantástica – tanto familiar quanto financeira – para que pudéssemos seguir nesse sonho. Não poderíamos ser mais gratos a Deus e a nossos pais por isso!
Sempre estudamos em escolas particulares, seguindo para o ensino superior em universidades públicas – desejo natural de qualquer pai de classe média brasileira.
Aimee seguiu na área de Direito, e eu em Ciência da Computação. Aimée sempre teve o objetivo de passar em concurso público, o que também faz parte do sonho de boa parcela dos pais brasileiros que desejam o melhor para seus filhos. Já eu, segui no mercado privado, tendo oportunidade de trabalhar remotamente durante toda minha carreira.
Depois do curso veio o trabalho, e logo o mestrado, para mim e para ela. “Mestrado é importante, Fábio”, é o que meu pai dizia toda vez que discutíamos sobre o tema.
Estudamos. Casamos cedo. Viajamos. Trabalhamos e estudamos mais um pouco. Viajamos mais um pouco. Acumulamos algum patrimônio. Conseguimos alcançar uma vida boa, aos olhos da sociedade padrão.
Mas se tudo está indo tão bem, por que inventar uma “inconsequência” de viajar durante um ano inteiro, no lugar de tocar a vida como todos esperam?
A vida é curta
2017 vai ficar marcado como o ano em que percebi quão frágeis são nossas vidas, e quão imperativo é aproveitar nosso! Vivenciei de perto duas situações que me motivaram a querer algo diferente para o ano de 2018.
1. Não podemos contar com quem amamos para sempre
Em Outubro de 2017 saímos de São Paulo com destino a João Pessoa. No dia seguinte iríamos ao casamento do meu irmão, que ocorreria pela manhã. Voo tranquilo, apesar de longo e com uma escala no Rio. Chegamos à casa dos meus pais por volta das 19:00.
O clima era de festa total – familiares de várias partes reunidos, risadas, piadas, pessoal falando alto e todos aparentemente felizes.
5 minutos: Esse foi o tempo que se passou entre a minha chegada em casa e o meu pai iniciar uma tremedeira descontrolada como eu nunca tinha visto em minha vida.
“Como assim!? 5 minutos! Tudo estava tão bem…?” – pensei. Ninguém entendia nada. O que havia ocorrido?
– “Isso é psicológico, Fábio, um parente muito próximo de seu pai faleceu hoje à tarde. Ele está bem emocionado com isso e com o casamento do seu irmão amanhã de manhã” – comentou minha mãe. “É melhor ele ir deitar e logo logo passa“, completou.
– “Mas como assim!?” – pensei. Algo parecia bem errado na história, e decidi levá-lo à emergência.
Ao chegar lá, 39 graus de febre e uma infecção urinária detectada.
“Menos mal… Infecção urinária não é coisa de outro mundo” – pensei. Passei das 19:30 às 04am ao seu lado, na emergência, e finalmente saímos com uma receita de antibiótico para ser tomado no dia seguinte, antes da festa, que ocorreria pela manhã.
Pela manhã, após ser medicado, a hora da festa ia chegando. Mas, apesar de ter acordado aparentemente tranquilo, meu pai começou novamente a ter um pouco de febre e retomar alguns tremores – desta vez mais fracos.
“Vai dar tudo certo, a gente vai no casamento e logo depois volto com ele pra casa“, eu dizia pra mim mesmo.
Quanto mais próximo da hora de saída, mais grave o quadro se tornava. Começou a angústia de que talvez ele realmente não pudesse ir para a festa…
Fotógrafo chega para o clássico ensaio do noivo com o pai antes da festa, e a situação dele piora – meu pai sequer conseguia ficar mais em pé.
Nesse momento, ele e resolve deitar-se na cama e avisa todos que não vai poder participar mais do casamento.
“Fazer o que?! Precisamos ir, pois somos padrinhos” – pensei… Nessa hora pensei em deixar Maria, uma diarista, observando-o de perto. Caso o estado ficasse mais grave, ela me ligaria no celular.
Chegamos na hora, igreja enchendo, fotos, familiares, sorrisos, uma festa um pouco diferente, mas vamos que vamos.
Conversas e sorrisos pra lá e pra cá, e quando estou pronto para entrar na porta da igreja, meu celular toca. É Maria.
– “Fábio, seu pai se trancou no banheiro e não está mais respondendo“. Pânico! Corri no meu tio e pedi para ele dar uma chegada na casa imediatamente.
Resultado: Ambulância de emergência acionada e meu pai é levado para o hospital, com quadro evoluindo e para uma septicemia e, consequentemente, internação em UTI.
“Vou direto ao ponto. O quadro do seu pai é gravíssimo, e faremos de tudo para que ele saia dessa.“, disse o médico responsável.
Mas a história termina com final feliz: Apesar dos 11 dias na UTI entre a vida e a morte e 20 de hospital, saiu sem sequelas, graças a Deus.
2. Nosso passado já passou, e o futuro é uma dádiva. Só podemos contar com o hoje!
O segundo caso que vivi de perto foi o da esposa de um amigo que conheci em 2017, em São José dos Campos.
Mulher bem jovem, por volta dos 40 anos.
Há dois anos foi diagnosticada com uma doença degenerativa auto-imune que vai parando todos os músculos do corpo, até deixar o paciente completamente imóvel.
Ele me contou em conversa pessoal que eles tinham planos e mais planos para a vida de casados. Sonhavam em conhecer o mundo – sabiam até os 60 países que desejariam conhecer antes de morrer. Hoje, ela só consegue se locomover usando cadeira de rodas, e respira com ajuda de aparelhos.
Creio fortemente em um milagre na vida do casal, para que eles ainda possam concretizar esse desejo. Esse foi mais um exemplo bem próximo, que me mostrou que tudo o que temos é o HOJE. O passado já passou, e nosso futuro é uma incógnita.
Por que não?!
Sempre trabalhei remotamente, o que é uma das grandes vantagens de se trabalhar na área de TI. Iniciei a carreira como estagiário, seguindo como Engenheiro de Software, Gerente de Projetos e Gerente de Produtos.
No ano passado nos mudamos para a região de São Paulo, para que eu pudesse tocar a minha própria empresa, o que rendeu alguns frutos, como contratos com multinacionais e algumas grandes empresas brasileiras.
Um dos grandes benefícios da minha carreira é justamente esse poder de trabalhar de onde quiser, bastando ter um acesso decente à internet.
O conceito de nômade digital não é novidade para ninguém, mas o caminho entre ter o desejo de ter uma experiência dessas e realmente concretizá-lo é bem longo e cheio de variáveis e dúvidas, principalmente para pessoas com famílias estruturadas. Não é fácil abrir mão de uma boa renda familiar (no caso, a renda de Aimée), simplesmente pelo desejo de viajar e aproveitar mais a vida.
Enfim, decidimos embarcar nessa aventura porque:
1. Podemos fazer isso agora;
2. Aimée não perderia o emprego, pois ela teve a possibilidade de pedir afastamento, como mencionou em seu texto aqui no blog ;
3. Estamos em uma idade em que se não fizermos isso agora, certamente ficará mais difícil depois de ter filhos. Não que seja impossível fazer uma experiência semelhante a essa e com filhos. O pessoal do projeto Novos Olhos pode ser uma inspiração legal para quem busca algo nessa linha.
Uma vez que você sabe onde quer chegar, o seu trabalho é só descobrir o melhor caminho! Então… por que não?
– Fábio Leal